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A CRIANÇA HERACLÍTICA PODERÁ SER FLAGRADA EM LEANDRO KARNAL?

Assino — ou "curto" — a página do professor Leandro Karnal na rede social hegemônica.

Ele é o primeiro brasileiro a abraçar com sucesso uma empresa a que vários já tentaram se dar, sendo, todos os seus predecessores, terrivelmente malsucedidos. Falo dessa crítica de costumes, que não tem preconceito ou rejeição de qualquer sorte em relação aos temas mais banais, cotidianos e, por assim dizer, terrenos da atualidade, sendo a atualidade mesma, aparentemente, o único referencial que a vincula.

Nesse sentido, é um discurso, que, sem ser sobre o tempo em si, e até passar longe de soar tão abstrato, é, inelutavelmente, sobre um tempo e, por força, também sobre um espaço (social): o ambiente e a cultura nacionais, e tudo aquilo que, vindo de fora ou do passado, os afete hodiernamente.

As parcas tentativas de desenvolver esse mesmo mister anteriores a Karnal, entre nós, brasileiros, vieram, quase sempre, dos que, amadores ou acadêmicos, se especializaram em História do Pensamento — esse ramo de Ciências Humanas tristemente designado, até hoje, de "Filosofia", palavra um tanto associada a Platão, aos socráticos e, sob inúmeros aspectos, ingrata, se não até deletéria.

Ele, porém, tem o bom-gosto e a elegância intelectual, atributos seus constantes, de preferir ser evocado como historiador. E, para quem entabula a narrativa de um tempo, quiçá, nenhum outro título e formação poderiam ser mais felizes e apropriados.

Karnal não examina o pensamento da atualidade em suas conexões históricas, — o que, eventualmente, seria de pouco ou nenhum interesse, já que não se vive uma época de efervescência de idéias, ou, quando menos, de idéias novas —; o objeto do seu labor são os fatos da atualidade nas suas articulações com o que mereça ser tomado como sua potência geradora, potência essa que não pode ser pensada de forma mais lúcida e inteligente do que como tecido histórico. Trata-se, pois, realmente, o que faz de historiografia. Uma historiografia do presente para o presente mesmo e para o futuro.

Diante dessa perspectiva, a pergunta que lhe enviei esta manhã, através da rede social referida, foi uma tentativa, no primeiro momento, inconsciente, já que feita muito de improviso, entre as neblinas sonolentas da manhã, assim que li o breve texto em destaque abaixo, de puxá-lo para fora do tempo atual e sua planigrafia histórica.

A propósito do mês (comercial) da criança, já havia pensado em mencionar, de algum modo, poesia formal ou versetos, a criança na História do Pensamento, passando por Nietzsche, Piaget, Rousseau, Locke; mas principiando pela Criança Heraclítica, por coincidência, mais ou menos, descrita nesse modelo de mundo que se esboça a partir de uma citação:

O professor ou não chegou a ver, ou não se interessou pela minha pergunta. Mas, de certo modo, a satisfez, quando disse a mais alguém, no mesmo tópico, que já usou essa citação anteriormente "Porque seria a resposta de Calderón e não a minha. Tenho umas 20 defin decoradas do que é a vida, mas não minhas" (sic).

Ele não pretende ser um criador, imbuído do espírito da criança Nietzschiano, nesse âmbito.

A novidade que acrescenta, como já dito acima, é metodológica, e bastante oportuna. I.e., mais uma vez, fiel ao tempo hodierno, ao preencher um campo lacunoso e apenas lugubremente visitado no País, razão justa e inequívoca do seu sucesso.

Igor Buys

13 de outubro de 2016

 

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