O CARRASCO DE TEL-AVIV E SUA MENSAGEM - poesia censurada no Recanto das Letras
O Rio de Janeiro nasce, e é belo. Nasce de entre tons rosados a embeberem o anil, passo a passo mais límpido. Dos maciços que nos abraçam de todos os lados, vai florescendo, crepitante, o verde, tão nosso, folha a folha, em estalidos de cor polifônica, poli- crônica; e logo o amarelo cálido filtra toda a paisagem. Entanto, em algum lugar do olhar que os olhos não acham à frente, colunas de fumaça escura procuram as nuvens brancas tal como os dedos de duas Crianças..., num enlace trêmulo, terminal. Uma desperta; outra, paralisa. Uma quer cantar e não pode; outra sopra, translúcido, o silêncio da morte, revés do grito uníssono, ensurdecido pelo clarão da bomba. Das bombas, que se não pode ouvir de tão imensas, de tão escuras... Rubras chamas, chagas; rostos, formas que não devem ser descritas senão como Guernica, o desmesurado Estorço, Interpondo-se ao adentrar do inverno. E, de algum modo, permanece noite e desmorona o berro oco, lacerante por entre as fibras do dia. Nalgum canto do olhar onde não adentra o impossível canto dos pássaros, sua inútil revoada ou o gregoriano fervilhar dos artrópodes, — há um monstro. O Carniceiro de Tel-Aviv, carrasco infanticida que a História contempla em contrações de aborto. E é nítida a sua mensagem tonitruante ao conjunto das nações aturdidas: estamos matando crianças, sim; estamos matando crianças e continuaremos a fazê-lo! elas são os nossos veros alvos, pois são o futuro vivo de uma nação, de uma etnia que pretendemos: morta! Ora, estamos apenas fazendo a outros o que foi feito a nós passado século. Tal como o empregado pelego que humilhado, pisado pelo patrão chega a casa e espanca a mulher e o cão para provar... que é forte. Mais forte que alguém. É tão simples como isto o motor da sanha do — Pequeno Führer de Tel-Aviv. É tão tosco como isto. Por semelhante modo, o menino molestado vai seviciar um outro, menorzinho. A paranóia fascista reverbera em Israel, moldando gerações de nazistas em miniatura. Eis quando ratos tremebundos rugem como leões! Mas não mordem a grande Ursa do Norte! Não... Não dominam toda a Europa: bombardeiam escolas. Seviciam essa humilde nação orgulhosa, de mulheres fortes e belas, de corações inquebrantáveis. Porém, na tentativa de se igualarem ao Reich, quem sabe, não dispersarão ainda as bombas do derradeiro holocausto!... E a História, em contrações terríveis, transpira o sentido, a potência da palavra — mártir! São estratos-cúmulos, são algodões ou são Crianças a se reclinarem ali..., em contraltina oração, todas juntinhas, uma só alminha que se prepara para adormecer e sonhar? sonhar com a luz que a bomba estilhaçaria; que o teto fendido afogaria em breu-cimento-dor-fratura-asfixia... um colégio inteiro desses seres sem peso, feitos só de porvir eternizado, agachado em fé, se organiza agora. E o nome do seu sonho é Aurora. Perdida e redescoberta Aurora dos mártires. E o nome desse Rio, sem janeiros, é Gaza; é Gaza onde o tempo, esta noite, se apartou das horas. Igor Buys 31 de julho de 2014
Menino palestino contra tanque sionista
