
TUITAÇÕES
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Reflexões ultra-sintéticas formuladas para veiculação através do tuíter @IgorBuys
DE VOLTA AO CASO DE LUÍZA BRUNET, APÓS PROGRAMA DE LEDA NAGLE
1 - Ontem, no programa da Leda Nagle, feministas condenaram o argumento, que teria ecoado na Rede, de que a Brunet seria culpada por ser vítima.
2 - Gosto muito, desde jovem, de ouvir as feministas. E continuo aprendendo com elas. Provavelmente, sou machista ainda e preciso da sua ajuda.
3 - Nem vou adentrar um ramo da ciência, da Criminologia que se chama — Vitimologia. Embora, ignorar a ciência permanentemente não seja o ideal.
4 - O que eu mesmo escrevi sobre o caso de Luíza Brunet não visa a justificar a violência contra ela. Ela foi vítima dum crime. Isso é um fato.
5 - E, justo por ser um fato, não é o tipo de coisa que eu discuta. Discutir o que está posto como senso comum e até lei não é deveras discutir.
6 - Não sou do tipo que concorda plenamente, dando ao discurso uma aparência de discussão "tintim por tintim" e ainda “entrando em detalhes”.
7 - Vejo um problema no discurso do feminismo hodierno — que talvez não esteja no originário: a tentativa renitente de consertar o patriarcado.
8 - Não se discutem alternativas ao modelo familiar patriarcal; tenta-se — reformá-lo do mesmo modo como se tenta reformar o capitalismo.
9 - O patriarcado, como o capitalismo não têm conserto. E os reformismos acabam sendo contraproducentes e legitimadores dos seus modelos.
10 - O X do problema é este. Ontem, no programa de Nagle, falava-se em: gêneros. Ótimo assunto. Tenho aprendido muito a respeito, ultimamente.
11 - Porém, em tudo o que chega a mim sobre múltiplos gêneros e constituição de famílias, observo a reprodução fiel de todo o modelo patriarcal.
12 - Então, sobre um significado deveras novo do que seja uma família, acaba não tendo nada a acrescentar: é velho e até — ultraconservador...
13 - A empolgação que se poderia nutrir em relação a novas visões de gênero morre diante da reafirmação modelar do triângulo: pai, mãe e filhos.
14 - “Nós também somos uma família”. Por quê? Porque recriamos esse modelo: pai, mãe e filhos. E recriam em moldes estritamente patriarcais.
15 - Homossexualidade não é (mais) doença. "Óbvio que não é doença!" grita-se. Mas, por quê?... Porque os gays são produtivos. Não seria isso?
16 - Os múltiplos gêneros podem se casar e adotar. Por quê? Para terem herdeiros e transmitirem bens? Para consumirem produtos dirigidos a eles?
17 - Isso, repete-se: não acrescenta nada. Só reafirma do patriarcado — essencialmente fascista — ao capitalismo, sócio perpétuo do fascismo.
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18 - Nunca achei que o PT fosse reformista, como pretendem muitos da esquerda. Entendo, sim, que o PT soube OCUPAR as estruturas de poder postas.
19 - Esse verbo, ocupar, tão caro à esquerda, atualmente, que traduz o MST, o MTST, também traduz o PT. Só que o PT não usou de violência.
20 - A violência revolucionária é meio, não fim; e, quando seja tomada como fim, a causa já deu lugar ao ressentimento, à sede de vingança.
21 - A revolução em si é a estrutura jurídica e ético-moral que vem após a violência e, conforme a ortodoxia (fundamentalista?), por meio desta.
22 - Voltando aos modelos de relação e ao caso da Luíza Brunet, escolhi essa palavra, modelo, inclusive, por ser o nome da profissão dela.
23 - Mas modelos, ficções são essenciais. Se o instinto não for filtrado pela razão, os conceitos, os modelos que produz regressamos à animália.
24 - O patriarcado é um tanto animalesco, mas não chega a ser natural. Aliás, está longe disso. É também ficção: um modelo — político de poder.
25 - Entre os hominídeos, à semelhança dos símios, os mais corpulentos, de início, deviam assumir a liderança natural dos grupos sociais.
26 - Mas, tão-logo a inteligência começa a se mostrar a nossa mais poderosa ferramenta, é provável que os líderes comecem a ser os mais sagazes.
27 - Ou melhor ainda: que a liderança comece a ser acertada, conforme a situação, em torno do que tem a idéia, o plano de ação mais interessante.
28 - E, nesta hipótese, já puxamos a brasa toda para o lado do comunismo utópico... Apesar de que ser o modelo mais natural não é o que importa.
29 - O que importa é construir a ficção que torne a vida em comum — racionalmente mais sadia e harmoniosa. Sociedade se pensa racionalmente.
30 - A individualidade é o campo da Grande Razão de Nietzsche, i.e., do instinto, do impulso, do sentir, da emoção: do corpo; nunca a sociedade.
31 - Tudo o que envolva a vida em comum tem de ser pensado coletivamente. E pensar coletivamente é usar da razão (a Pequena Razão) lógico-verbal.
32 - A razão lógico-verbal, de saída, processa palavras, que são construções coletivas, históricas, e por meio destas, conceitos, significados.
33 - O intelecto agente da teoria do conhecimento aristotélico-tomista, é um — eu-individual; o intelecto possível, um — eu-coletivo.
34 - E Aristóteles não sabia, mas aos intelectos correspondem, mutatis mutandis, os lobos cerebrais, direito e esquerdo, da ciência hodierna.
35 - A nota essencial da humanidade é esta: o sermos, cada qual, individual-coletivos. O termos id e superego (Freud): outra correspondência.
36 / 1 - Sem construirmos essa dualidade, não chegaríamos a ser humanos. Talvez, como os lendários meninos-lobo, nos parecêssemos com lobos.
37 - O que nos distingue é um eu-coletivo, sede duma série de modelos, pelos quais filtramos o impulso puro para con-vivermos socialmente.
38 - E a discussão sobre tais modelos precisa estar aberta, sempre. Não podemos deixar que se naturalizem, se cristalizem, como salienta Brecht.
39 - Como vamos, enfim, construir modelos para as nossas relações? Bem, como comunista utópico, espero sempre que caso a caso e conforme o azo...
40 - O exemplo de Sartre e Simone, retocando o que disse antes, é sobre criar, livremente, um modelo sadio e racional para as necessidades deles.
41 - O modelo deles não deve, necessariamente, ser copiado. Pode até ser, se as pessoas entendem que... ora, é uma grande idéia e nos atende bem!
42 - O que não faz sentido é aceitar viver e conviver dentro de esquemas sabidamente doentios, falidos de relação e esperar bons resultados.
43 - Por que Cunha não é “a encarnação do mal”, conforme a Presidenta @dilmabr e outros, depois dela, que é sua vítima imediata? Quem a entendeu?
44 - Ela citou Arendt como respaldo. Logo, a resposta é: porque Cunha assume pautar-se por um modelo iníquo do que significaria ser um político.
45 - E, depois dessa assunção, já é uma subjetividade coletiva que, em alguma medida norteia seus atos. Modelos iníquos produzem gângsteres.
46 - Modelos cafajestes impelem a cafajestagens. O patriarcado enseja violência doméstica silenciada, anulação da mulher e inda se auto-reproduz.
47 - Não cumpre, pois, consertá-lo, reformá-lo, mas derrubá-lo e sub-rogá-lo por algum outro arranjo político de poder, numa revolução pacífica.